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Nelson Sargento

  • Foto do escritor: Batucando
    Batucando
  • 20 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 18 de jun. de 2020


O samba teve ao longo de sua história alguns defensores implacáveis. Mais que bambas, baluartes - no sentido estrito da palavra: sustentáculos da cultura popular e fortalezas inexpugnáveis contra investidas destruidoras. Uma destas personalidades é Nelson Sargento, que tantas vezes socorreu o samba antes de seu "suspiro derradeiro".


Prestes a completar 96 anos de idade, o decano do samba tem uma história de vida que se confunde com as trajetórias de sua Estação Primeira e do próprio samba.


Na Verde e Rosa, chegou a ser presidente da Ala de Compositores na década de 50. Tempos idos em que o samba - "inocente, pé-no-chão" - ainda era praticado em terreiros, locais propícios para rituais que cruzam o profano com o sagrado. Ao lado de outros mangueirenses, como Zagaia e Padeirinho, formou o conjunto Os Terríveis do Ritmo. O sambista Marreta, por sua vez, foi seu mais entrosado parceiro na agremiação.


Seu mestre na arte do samba foi seu pai adotivo Alfredo Português, com quem chegou a travar parcerias em alguns sambas-enredo. Um deles, “Cântico à Natureza”, de 1955, é considerado um dos grandes clássicos do gênero.


Quando, nos anos 60, "mudaram toda a sua estrutura", Sargento esteve na trincheira da batalha pela revalorização do samba, integrando o escrete que atuou no espetáculo Rosa de Ouro e compondo os conjuntos A Voz do Morro, Os Defensores do Samba e Os Cinco Crioulos.


Sensível ao acossamento imposto por outros ritmos ao samba na indústria cultural, compôs nesta época o hino de resistência dos sambistas, “Agoniza, mas não morre”, seu maior sucesso, que seria gravado originalmente por Beth Carvalho apenas no final dos anos 70.


Foi nesta época, também, que o mangueirense lançou seu primeiro álbum. Nas décadas seguintes, outras sete produções individuais seriam lançadas, sendo duas delas realizadas no Japão. É grande, aliás, a relação de afeto de Nelson Sargento com o país: foram quatro visitas, a mais recente no ano passado.


Em um momento histórico em que a arte popular é luz para combater o obscurantismo que se abate sobre o país, Nelson Sargento é, mais do que nunca, um baluarte. Não só da Mangueira e do samba, mas de toda cultura brasileira.


***

Muitas vezes a potência criativa de um artista não pode ficar contida em apenas uma forma de expressão. Nelson Sargento é um exemplo claro de talento cuja genialidade transborda os mais diversos caminhos de inspiração e criação. Sambista de Carnaval e de “meio de ano”. Melodista e poeta. Intérprete e instrumentista. Pintor e ator. Memorialista, pesquisador e escritor.


Como sambista, a lista de realizações de Nelson Sargento é extensa. Emplacou sambas-enredo na Mangueira, atuou em espetáculos como Rosa de Ouro e Mudando de Conversa, compôs trilha para novela (“Dona Xepa”, gravado por Elizeth Cardoso) e fez turnês internacionais. Aos dois ídolos, Cartola e Paulinho da Viola, homenageou com sambas, mas também se dedicou a projetos que celebraram nomes como Nelson Cavaquinho e Geraldo Pereira.


O gênio do samba sincopado, a quem conheceu ainda nos tempos de Unidos da Mangueira, anterior ao ingresso na Verde e Rosa, também foi responsável pela estreia de Nelson como escritor - em 1983, valendo-se de sua privilegiada memória, participou da elaboração do livro “Um certo Geraldo Pereira”, lançado pela Funarte em 1983. O multiartista ainda lançaria livros de poesias (“Prisioneiro do Mundo”) e de reflexões (“Pensamentos”), além da obra “Cacá Diegues por Nelson Sargento”.


A ligação com o cineasta vem da atuação do mangueirense no filme “Orfeu”, de 1999. A relação com a sétima arte, porém, é bem mais antiga: sua primeira participação na grande tela é de 1970, no filme “É Simonal”, de Domingos Oliveira. No total, atuou em oito filmes, uma minissérie e uma novela.


Nas artes plásticas, Sargento também é bamba. Foi por obra do acaso, fazendo uma composição com tinta e massa plástica em uma jornada de trabalho, que o pintor de paredes começou a criar telas.


A primeira vernissage foi na casa do jornalista Sérgio Cabral, em 1973, e Paulinho da Viola foi o primeiro comprador, justamente de sua pioneira obra. Aos poucos identificou-se com a estética naïf, revelando-se um expoente do estilo. Atualmente, tem mais de 600 pinturas espalhadas pelo mundo, do Palácio do Planalto ao gabinete presidencial da Coreia do Sul.


Nelson Sargento é tão grande, que nem cabe explicação.


Texto: André Carvalho

Ilustrações: Kelvin Koubik

 
 
 

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