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Toinho Melodia

  • Foto do escritor: Batucando
    Batucando
  • 1 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de nov. de 2020


Ao sambista que, na sutileza dos versos, sonha e faz de qualquer desacato uma rima, flores em vida são flores à vida. Em seu nome, a melodia. Em sua essência, a liberdade sofrida de um sonhador que, com o suor, triunfa. Cobra criada não se intimida e o tempo, santo remédio, é que ensina: viver, cantar e amar é também lutar!



Bebendo de uma fonte que já não existe mais, tornou-se um bamba e, de um de seus mestres, Toniquinho Batuqueiro, recebeu o nome que o consagrou: Toinho Melodia. Eram tempos em que dedicava a inspiração e seu canto à Unidos da Vila Maria e convivia com sambistas do naipe de Talismã, Jangada, Zeca da Casa Verde, Lagrila, Carlão do Peruche e Geraldo Filme.


As agruras de um homem negro, nordestino e periférico não deixariam de estar presentes no capítulo de maior vulnerabilidade de sua história, quando superou um câncer de próstata e chegou a viver em situação de rua, afastando-se de tudo e de todos.


Em 2009, foi reconhecido na plateia de um show de Toniquinho Batuqueiro pelo velho sambista: “Toinho, por que você está aí e não aqui?”. Não havia como abdicar do samba sendo ele uma força vital em sua existência. Aos poucos, Toinho foi retomando seu lugar ao sol e, ao encontrar nos “meninos” Rodolfo Gomes e André Santos mais que produtores de confiança, bons amigos, assumiu de vez a carreira artística.


Toinho faz de sua música um instrumento de denúncia social, abordando temas como o genocídio da juventude negra (“Le Bolívia”), a seca no Nordeste (“Aboio”), o abuso policial (“Liberdade sofrida”) e os incêndios criminosos em comunidades motivados pela especulação imobiliária (“Desfecho cruel”).


Em 2018, lançou seu álbum de estreia, “Paulibucano”, que foi antecedido por uma turnê em que retornou à sua terra natal. “Vim comendo biju e voltei lançando um disco”, orgulha-se.


Acolhido e respeitado, Toinho quer ir além e seguir celebrando a vida, mesmo que sofrida. Que caia sobre ele todas as bênçãos. Saúde, mestre!

***

Em um primeiro momento, Toinho Melodia ficou um pouco desconfiado. “Isso é coisa certa, mesmo?”, questionou, quando consultado sobre a possibilidade de que fossem remixadas algumas músicas de seu álbum de estreia, “Paulibucano”. Jamais havia lhe ocorrido que suas composições pudessem ganhar uma roupagem dub (gênero surgido na Jamaica no final dos anos 60), mas confiava muito no amigo e produtor André Santos para negar a sugestão. E a proposta foi aceita.


Nas semanas que antecederam a produção, batizada de “Pernambulista”, André procurou mostrar ao mestre que, entre Brasil e Jamaica, havia muita coisa em comum. A poética de compositores como Bob Marley e Peter Tosh, impregnada de temas como violência policial, tensão racial, abuso de poder, desigualdade social e luta de classes, por exemplo, sensibilizou o compositor. “Os caras são iguais a mim”, refletiu.


De fato, havia muito em comum entre ele e aqueles artistas jamaicanos: fosse em São Paulo ou em Kingston, suas expressões musicais estavam alicerçadas na diáspora africana, ainda que forjadas a partir de movimentos intelectuais, culturais e políticos distintos.


O LP com as versões “adubadas” de “Pretexto” (feita pelo pernambucano Buguinha Dub) e de “Le Bolivia” (produzida pelo paulista Pedro Lobo), lançado no formato de 45 rpm, rapidamente se esgotou. E Toinho ficou satisfeito com o que ouviu.


As imersões no universo da música jamaicana com André Santos pareciam estar fazendo efeito: quando subiu ao palco para fazer um show no novo formato, Toinho tirou onda, surpreendendo até mesmo os escolados músicos da banda que o acompanhou na ocasião. Desta experiência, nasceu o projeto “Toinho Dub”, com duas gravações em estúdio: “Pretexto”, em uma nova versão, e a inédita “Liberdade Sofrida” foram as composições escolhidas.


As produções, lançadas nas plataformas digitais, foram acompanhadas por dois clipes que mostram o sambista totalmente à vontade no novo ambiente musical que se inseriu. A ideia, agora, é que “Toinho Dub” seja lançado em LP em um futuro próximo.


“Se eu soubesse que seria assim, teria feito antes”, celebra Toinho Melodia.


Texto: André Carvalho

Ilustrações: Kelvin Koubik

 
 
 

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