top of page

As Ganhadeiras de Itapuã

  • Foto do escritor: Batucando
    Batucando
  • 2 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de mai. de 2020



Do local exaltado em versos de Vinícius e Caymmi vem o Bando das Ganhadeiras, ganhadoras do Carnaval carioca deste ano. A celebração do título da Viradouro tomou as ruas do bairro soteropolitano e fez com que o efervescente reduto de cultura popular afro-baiana voltasse a ganhar olhares atenciosos de todo o Brasil.



Exaltando a negritude e a força do matriarcado que fundamentam suas histórias de vida, as Ganhadeiras de Itapuã têm por missão “resgatar, preservar e fortalecer as raízes e tradições histórico-culturais” do bairro situado nos arrabaldes de Salvador, que abrigou em tempos idos o Quilombo do Buraco do Tatu. Almejam, ainda - como as antigas mulheres escravizadas de ganho -, contribuir, através da arte, “com a construção de uma sociedade capaz de gerar trabalho e renda”.



Foi na casa de Dona Mariinha, onde a ganhadeira de 85 anos vive desde que nasceu, que em 2004 foi criada a agremiação que é hoje um patrimônio da cultura baiana. A ideia era relembrar velhas histórias e tradições itapuãzeiras, antigos sambas de roda e um modo de vida em que a relação com as forças da natureza ainda tinha grande importância. Se por décadas a fio Dona Mariinha ajudou no sustento de casa lavando roupas de ganho na Lagoa do Abaeté, hoje ela se dedica apenas a lavar a alma de sua gente.



A transmissão de saberes através das gerações é um dos alicerces da associação cultural e isto é evidenciado na composição etária do grupo, com mulheres de 2 a 88 anos. Antônia Sophia, de 12 anos, no documentário “As Ganhadeiras da Viradouro”, diz que se sente “guerreira e poderosa” toda vez que se veste de ganhadeira. “Porque esta é uma história de sofrimento e ao mesmo tempo de luta por direitos. E é o que o Brasil está precisando", diz a menina.

***

Com dezenas de praias pontilhadas ao longo de seu vasto litoral, a geografia peninsular de Salvador - com o mar a lhe abraçar por todos os lados - explica o porquê da capital baiana ser abençoada por bons ventos.


Nascida em mar fechado, voltada para o Recôncavo, a cidade correu para mar aberto, na direção da imensidão atlântica. Ali, quase no limite de seu território, um caldeirão musical se formou, moldando a musicalidade das Ganhadeiras de Itapuã. Transcendendo o samba de roda matricial do Recôncavo, fechado em si, uma sonoridade mais aberta a outras influências - ampla como a costa que se volta ao continente africano - se forjou: o “Samba de Mar Aberto”. Criado por Amadeu Alves, diretor musical do conjunto, o termo contempla tanto uma maneira de tocar e cantar, matizadas pela influência das tradições itapuãzeiras, quanto à colcha de retalhos sonoros que caracteriza a cadência harmoniosa das Ganhadeiras de Itapuã. Da Lavagem de Itapuã, da Festa da Baleia, da Missa do Anzol, do Presente de Oxum e da Festa de São Tomé vêm o aprendizado para os músicos que arregimentam e temperam a musicalidade popular das Ganhadeiras. “Nossos percussionistas passaram por terreiro de candomblé, passaram pelo Malê Debalê, pelos batuques de rua, pelas festas de largo. E mesmo eu, como violonista, na minha maneira de tocar, trago essa sonoridade percussiva", diz Amadeu Alves no documentário “As Ganhadeiras de Itapuã”, produzido pela TV UFBA. E fincado em Itapuã, à beira da Lagoa do Abaeté, esse samba vai agregando outros ritmos como a ciranda, o coco, o maracatu, o ijexá, a marchinha carnavalesca e a música sacra, entre outros presentes ofertados ao mar aberto. Regional e universal, simples e absurdo, o “Samba de Mar Aberto” das Ganhadeiras de Itapuã, “fruta que dá no tempo certo”, é a expressão da diversidade e complexidade musical afro-baiana. Salve as Ganhadeiras de Itapuã! Texto: André Carvalho Ilustrações: Kelvin Koubik

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2_Post

©2020 | Batucando

bottom of page